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HIPOSPÁDIA NA CRIANÇA – Conceitos atuais

A hipospádia é uma anomalia congênita relativamente frequente, com uma incidência de 1: 200 meninos, caracterizada pela NÃO LOCALIZAÇÃO DA URETRA NA EXTREMIDADE DO PÊNIS. Pode a uretra terminar ventralmente abaixo da glande, no meio  ou na base do pênis ou mesmo na bolsa escrotal ou períneo. Não causa incontinência urinária. É acompanhada por excesso de pele prepucial dorsal que recobre parcialmente  a glande  a qual pode ter algum grau de rotação, ou mesmo o pênis apresentar uma importante curvatura ventral chamada chordeeobservada principalmente quando mais afastado da glande estiver o meato uretral, ou seja  na hipospádia proximal. Se esta estiver associada à criptorquidia uni ou bilateral deve ser feito uma investigação para transtorno da diferenciação sexual, não devendo-se registrar a criança ao nascimento até o esclarecimento da identidade sexual do recém nascido. Em 5% dos casos o prepúcio cobre toda a glande (criptohipospádia), havendo um megameato localizado logo abaixo da extremidade peniana ou no sulco bálanoprepucial, sendo comumente  diagnosticada durante  a postectomia.

A hipospádia peniana é atribuída à falhas no processo de fusão das lâminas uretrais, na face ventral do tubérculo genital durante a fase embrionária. O tratamento é cirúrgico recomendando-se em torno de 8 a 12 meses de idade pois a criança nesta fase da vida tolera muito bem a cirurgia, com o mínimo de trauma. Tem como objetivos confeccionar a uretra de diâmetro adequado posicionando-a no centro da glande, proporcionar uma micção sem esforço  sem abaulamento da uretra, tornar o pênis sem curvatura quando ereto, um aspecto peniano mais próximo do normal e uma futura atividade sexual normal na época  adequada. A técnica utilizada depende da localização do meato uretral, da presença ou não de curvatura peniana, tamanho do pênis e da glande, quantidade e qualidade da pele do prepúcio, cirurgias anteriores, presença de fibrose, etc.

Inúmeras são as técnicas descritas para a correção cirúrgica sendo as mais utilizadas as  de Snodgrass, Onlay, Magpi, Bracka, Mathieu, Duplay, além de enxertos de mucosa labial ou pele prepucial. Por esta razão estas crianças nunca devem ser circuncidadas pois a pele prepucial é de grande importância  na confecção da uretra e oferecer ao pênis um bom aspecto estético. Quando o pênis é pequeno aconselha-se o uso da testosterona pré-operatória intramuscular ou sob forma  tópica ( creme de propionato de testosterona a 2% ) aplicada diariamente no pênis por 30 dias antes da cirurgia, que ao aumentar o tamanho facilita a cirurgia.

O cirurgião pediátrico deve ter conhecimento e domínio das mais variadas técnicas , pois a utilização depende de cada caso. A tendência atual é conservar a placa uretral sendo a cirurgia feita na maioria dos pacientes em ÚNICO TEMPO OPERATORIO. Nos casos de hipospádia em que há grande curvatura do pênis geralmente a cirurgia é realizada em dois tempos, desfazendo o chordee ( fibrose)refazendo a placa uretral com prepúcio ou mucosa labial para posterior tubulização, geralmente 6 a 9 meses depois. Deve-se usar no ato cirúrgico  material delicado, finos fios  de sutura, muito cuidado se precisar de bisturi elétrico e usualmente uma sonda na bexiga permanece por poucos dias, não impedindo da criança andar ou engatinhar. A neouretra deve ser coberta com retalhos de dartos ou túnica vaginalis para  diminuir ou evitar fístula uretral pós-operatória.

O primeiro curativo é removido pelo cirurgião dois a três dias após o ato operatório Analgésicos são prescritos e a alta hospitalar geralmente é no mesmo dia da cirurgia.

Complicações pós operatórias podem surgir como fístulas, deiscências parcial ou total da neouretra, infecção , hemorragia, hematoma, necrose prepucial e persistência do encurvamento peniano, que são inversamente proporcionais à experiência do cirurgião.

Um grande número de pacientes operados pela mesmo cirurgião, resulta na obtenção de ótimos resultados na grande maioria dos casos.

 

Dr.  Wilberto Trigueiro – CRM 871
Cirurgião pediátrico – Especialista pela AMB
Professor adjunto de CIPE da UFPB e FAMENE